Caio F é do mundo
Dois grupos de Pernambuco se unem para levar ao palco contos do escritor gaúchoFalando por telefone de Recife, Antônio Rodrigues, que divide a direção de Caio F. – Três Monólogos com o também pernambucano Breno Fittipaldi, avisa: – Não é porque viemos do Nordeste que vamos mostrar uma montagem com cores regionais. Vamos mostrar um espetáculo universal.
Rodrigues está falando da peça que estará em cartaz hoje e amanhã, às 22h, no Auditório do Instituto Goethe, ainda com ingressos à venda. Mas, por tabela, acaba explicando por que a obra de Caio Fernando Abreu (1948 – 1996) parece não sair de cartaz nos palcos.
– Ele escreve sobre os dramas, as solidões e os amores próprios de quem vive nas cidades grandes. E cidades grandes existem em todo o mundo, Nordeste, Europa ou sul do Brasil. Somos todos animais urbanos– diz Rodrigues.
A multiplicação de Caios é tão grande que Três Monólogos é uma combinação de dois espetáculos inspirados em textos do gaúcho – um criado pela Cia do Ator Nu (de Fittipaldi) e outro pela Cênicas Cia de Repertório (de Rodrigues). O coordenador do Em Cena, Luciano Alabarse, assistiu em Pernambuco aos trabalhos e sugeriu aos grupos que se criasse um novo espetáculo a partir deles.
Acabou assim: começa com o monólogo Praiazinha, em que um menino descobre as coisas do sexo observando seu primo; depois, entra em cena a conhecida Dama da Noite, texto ambientado em um bar de final de noite, onde uma criatura de sexualidade indefinida cobra indefinições de um cliente. Em seguida, o público é convidado a relaxar e a provar de um conhaque, antes da trama de Fio Invisível, baseado no conto Além do Ponto, que descreve a jornada sentimental de um solitário que corre a cidade atrás de alguém que o acolha.
Rodrigues observa que não importa tratar-se de contos, romances ou textos dramatúrgicos, a obra de Caio exibe características que seduzem os encenadores: um tom confessional que convoca à cumplicidade, descrições atentas que facilitam a visualização das cenas, talento para descobrir poesia e redenção em temas muitas vezes violentos.
– E o texto em si – festeja Rodrigues. – Mesmo quando não eram pensadas para o palco, as falas que Caio escrevia saíam com uma fluência pronta para estar em cena.
http://www.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&source=a2654189.xml&template=3898.dwt&edition=13133§ion=999
RENATO MENDONÇA do Zero Hora
Marcelo Francisco e Gilberto Gawronski
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Folha de São Paulo - 08 de setembro de 2009
Porto Alegre em Cena liga teatros de Recife e Montevidéu
Em seu 16º ano, o Porto Alegre em Cena, um dos mais importantes festivais de artes cênicas do país, abre as cortinas a partir de hoje tanto para uma compatriota distante, Recife, quanto para uma estrangeira vizinha, Montevidéu. E também, por que não, para um diálogo entre as duas.
Com três representantes, a produção pernambucana é um dos destaques da programação nacional e encabeça uma comitiva nordestina encorpada --comparecem cinco títulos da região, quando o habitual nas grandes mostras do Sul e do Sudeste é ter, no máximo, dois.
Em um dos espetáculos recifenses, reverbera um sotaque gaúcho: "Caio F. - Três Monólogos" costura contos de Caio Fernando Abreu (1948-1996), autor cada vez mais encenado por jovens grupos no Brasil.
Na ala internacional, é o Uruguai que mais envia peças a Porto Alegre. Há desde um texto da franco-iraniana Yasmina Reza protagonizado por César Troncoso (que o público brasileiro conhece do filme "O Banheiro do Papa") até "biografias-em-cena" dos pintores Van Gogh e Frida Kahlo.http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u620747.shtml
LUCAS NEVES da Folha de S.Paulo
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Jornal La República - 18 de setembro de 2009- Uruguai
Muestra. Una mirada a lo más destacado del arte de las tablas
Prosigue a toda marcha el festival teatral "Porto Alegre en Escena"
Cena Fio Invisível
"Caio Fernando Abreu, tres monólogos", de Antônio Rodrigues y Breno Fitipaldi (de Pernambuco, Teatro del Instituto Goethe) es un estreno del Festival que une "Fio invisível de minha cabeça", "Praiazinha" y "A dama da noite" de Caio Fernando Abreu. Con buenas interpretaciones de Henrique Ponzi, Antonio Rodrigues y Marcelo Francisco, las tres piezas desarrollan los temas permanentes de Abreu, con su energía habitual: el elusivo sentido de la vida y el placer y sobre todo "...el temor de haber sido y un futuro terror".
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Jornal do Brasil - 18 de setembro de 2009 - RJ
De Beckett a Caio Fernando Abreu no 'Porto Alegre em Cena'
Daniel Schenker, Jornal do Brasil
PORTO ALEGRE - RS
A diversidade do teatro de Pernambuco despontou nos espetáculos apresentados na 16ª edição do festival Porto Alegre em Cena. O grupo Magiluth recebeu aplausos entusiasmados por Ato, trabalho no qual conjugaram o universo clownesco com assumida inspiração em Samuel Beckett (1906-1989). A Companhia Ator Nu e a Cênicas Companhia de Repertório somaram forças na realização de Caio Fernando Abreu – Três monólogos, resultado de adaptações teatrais de textos não dramatúrgicos do escritor (1948-1996). E Ivaldo Mendonça mostrou Tempo fragmento, criação filiada ao campo da dança que faz carreira há um ano e meio.
– Existe uma efervescência de companhias jovens no Recife desde o ano 2000 – diagnostica Pedro Vilela, integrante do Magiluth, companhia que fundou o Grite (Grupos Reunidos de Investigações Teatrais), movimento que visa à discussão de políticas públicas.
Pedro também faz referência a outros grupos que vêm se destacando nos últimos anos, como Coletivo Angu de Teatro, Fiandeiros, Quadro de Cena, Totem, Marco Zero e a já citada Cênicas Companhia de Repertório. O Magiluth surgiu em 2004, no curso de licenciatura em artes cênicas da Universidade Federal de Pernambuco. Lançou-se profissionalmente com o espetáculo Corra, uma investigação em torno do ator-narrador inserido no teatro épico. Mudaram de rumo em Ato, encenação em que aborda, sem utilizar a palavra, as relações de poder.
– Buscamos desenvolver a temática do poder através da figura do clown. Mesclamos com influências dos quadrinhos e dos desenhos animados. E construímos cenas fragmentadas, absurdas e contrastantes na alternância entre a despretensão da gag e a perspectiva trágica – desenvolve Júlia Fontes, que assina o espetáculo com Thiago Liberdade.
A principal referência no universo de Beckett é a da peça Ato sem palavras 1. Em vez do personagem que vaga pelo deserto impotente diante dos desígnios de uma força superior, os diretores enfocam disputas de poder num sistema hierárquico claramente definido. Mas há também apropriações de outros textos, como Esperando Godot, a exemplo da reprodução da relação de domínio e dependência entre Pozzo e Lucky. Depois de Ato a companhia partirá para novo desafio: a adaptação de Diário da guerra de São Paulo, livro de Fernando Bonassi, no qual retomará as bases do teatro narrativo a partir de oficinas com profissionais como Marcio Marciano, da Companhia do Latão, atualmente radicado na Paraíba, onde conduz o Coletivo Alfenim.
Perguntas ao público
Caio Fernando Abreu – Três monólogos surgiu de uma proposta lançada pelo próprio diretor do Porto Alegre em Cena, Luciano Alabarse, que assistiu, no Janeiro de Grandes Espetáculos, às apresentações de monólogos concebidos a partir de contos de Caio – Uma praiazinha de areia bem clara, ali, na beira da sanga, A dama da noite e Além do ponto. Os dois primeiros foram assinados pela Cênicas Companhia de Repertório; o último, reunido num trabalho intitulado Fio invisível da minha cabeça, pela Companhia do Ator Nu.
– São contos sobre personagens que estão à margem e amaram demais – resume o produtor Edjalma Cassemiro de Freitas.
Os diretores Breno Fittipaldi e Antônio Rodrigues vêm estreitando contato com a obra de Caio Fernando Abreu há bastante tempo.
– Conheci seus textos em 1988, época em que havia lançado Morangos mofados. De início, não imaginei transportá-los para o teatro. Até que em 2000 ministrei um curso e concluí com trabalho a partir dos contos de Os dragões não conhecem o paraíso – lembra Fittipaldi.
Fittipaldi e Rodrigues constatam uma preponderância na adaptação de obras não dramatúrgicas para o palco em detrimento dos textos escritos para teatro, ainda que o público já tenha visto encenações de A maldição do Vale Negro e Pode ser que seja só o leiteiro lá fora.
– Nos textos teatrais há um humor mais leve. Mas acho que muitos compraram a ideia de um Caio mais noturno e cruel, próprio da produção literária – opina Rodrigues.
Representante da dança no Porto Alegre em Cena, Ivaldo Mendonça mostrou Tempo fragmento, espetáculo lacunar, no que se refere à determinação em deixar espaços para o espectador preencher.
– Trabalhamos com a intensidade do movimento, o que não implica em emoções. Afinal, procuramos justamente não induzir o público a uma leitura específica – justificaIvaldo Mendonça.
Tempo fragmento parte tanto de experiências pessoais dos bailarinos quanto de pesquisas realizadas durante o processo.
– Como o suporte é a nossa vivência, falamos sobre passado e presente. Além disso, formulamos questionários e distribuímos para pessoas próximas, mas de classes sociais diferentes. Lançamos perguntas como: “Você acha que seu tempo de vida termina na morte ou numa tristeza?”. As respostas costumam ser parecidas – aponta Ivaldo.
http://jbonline.terra.com.br/pextra/2009/09/18/e18096248.asp
Daniel Schenker viajou a convite da organização do festival
No Camarim com Luis Salem, Gilberto Gavronski e Nildo arente(Breno Fitipaldi, Henrique Ponzi, Marcelo Francisco e Antônio Rodrigues)
Final da apresentação Instuituto Goethe
Entrevista na Rádio no RS
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Crítica Rodrigo Monteiro
20 de Setembro de 2009
16° Porto Alegre em Cena: Caio Fernando Abreu: três monólogos
Caio de Setembro
por Rodrigo Monteiro
http://teatropoa.blogspot.com
[foto: diego pisante/divulgação]
Try to remember the kind of September
When life was slow and oh, so mellow.
Try to remember the kind of September
When grass was green and grain was yellow.
Try to remember the kind of September
When you were a tender and callow fellow.
Try to remember, and if you remember,
Then follow.*
Depois de terem sido vividas, as coisas não podem morrer. Você pode fingir, fazer de conta que elas não existem, que não estão ali, não lembrar delas sempre, mas achar que desapareceram é impossível. A vida se constrói em movimentos, todos eles sem retorno. É de Heráclito a conclusão de que você nunca toma banho no mesmo rio duas vezes. O novo só é novo uma vez. E, em December, lembramos (ou lembraremos) com prazer the kind of September. Quando a vida era devagar e doce, a grama era verde e você (não importa quem) era terno e próximo.
Foi Caio Fernando Abreu quem soprou em September, esse virginiano gaúcho com uma vida cheia de furacões dentro de si. Em December, só conseguimos vislumbrar a ingenuidade de September. Caio aponta o dedo na ferida e nos faz, near Christmas, conviver com a dor de que muito provavelmente nem Papai Noel exista. Depois de ler Caio, e viajar com ele, só os medíocres são ingênuos.
Quando a Cia Ator Nu e a Cênicas Cia de Repertório, ambas de Recife, iniciaram, no palco do Goethe, três monólogos de Caio, eu sabia que dali não era possível sair como entrei. Talvez mesmo isso nunca seja possível, mas é uma certeza quando se trata de um texto desse autor. Caio me ensinou a dar-me rosas brancas para que eu as colorisse com as cores da minha vida. Me ensinou o prazer de suores noturnos, de companhias desconhecidas, de momentos fugazes. Me ensinou o gosto salgado de estar vivo, a ouvir o próprio coração, tomar chá. Um conto do Caio F. é sempre uma viagem sem volta em que não se é passageiro, mas testemunha.
Na platéia, somos testemunhas de três monólogos benvindos, cada um por um motivo. Cada texto com o seu segredo a segredar.
No primeiro, a solidão das lembranças que não se apagam e nos individualizam. O habitar um único e pequeno espaço dentro de nós mesmos, no palco traduzido por toda uma marcação sobre uma caixa pequena e apertada. Um único foco sobre o ator, a claustrofóbica sensação de segredos sendo amarrados no peito, escondidos contra o mundo que os deve descobrir. Quem já se abriu para pessoas erradas, sente na carne pedaços de sua carne em bandejas vergonhosas.
No segundo, a amargura de quem brilha para poucos. Um brilho sublime que só não é para qualquer um porque, infelizmente, de pobrezas o mundo é cheio. Cheio e rodante, pois, na roda, estão os que não param para viver. A Dama da Noite é um sol cuja luz é possível enxergar.
No último, a vontade de ser feliz, a confiança de que, ao bater e esperar, um dia, a porta irá se abrir. A fé de que há um pouco de lógica nessa vida que nos permite confiar que, se fizermos por merecer, haveremos de ganhar nosso quinhão. Mesmo molhados e fedidos, cansados e sujos, estamos a bater e a esperar, batedores e esperançados. Sonhadores.
Cada ator e suas qualidades, embora destaque a antecipação frustrante dos gestos às palavras no primeiro e o excesso de recursos cênicos no terceiro, o que polui o último monólogo de um jeito bastante cansativo. Todos, no entanto, honestos a enfrentar as sensações e os sentimentos que o texto lhes trouxe e que eles, agora, hão de nos fazer sentir e lembrar.
Cá lembro de Caio e do peso de suas palavras.
Ficha Técnica:
Texto: Caio Fernando Abreu
Direção: Breno Fittipaldi e Antônio Rodrigues
Adaptação: Antônio Rodrigues
Elenco: Henrique Ponzi, Antônio Rodrigues e Marcelo Francisco
Iluminação: Luciana Rapozo
Trilha Sonora: Sônia Guimarães e Antônio Rodrigues
Produção: Edjalma Cassemiro de Freitas
http://thingsmag.blogspot.com/2009/09/16-porto-alegre-em-cena-caio-fernando.html
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Um comentário:
Muito obrigada pelo comentário no post POA em cena - Digam o que disserem [http://jaquelice.blogspot.com/2009/09/poa-em-cena-digam-o-que-disserem.html]. O festival realmente é uma bênção pra quem gosta de teatro e vocês estão de parabéns. Pelo menos uma pessoa eu garanto que saiu da peça profundamente tocada (aos prantos rs): eu. Agradeço ao grupo e ao Caio, claro. Meu ídolo.
Abraço,
Jaqueline Bica
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