A Visita da Velha Senhora
Repleta de reviravoltas em sua trama, “A Visita da Velha Senhora” ganha montagem da Galharufas Produções com estreia neste sábado. A peça, clássico do suíço Dürrenmatt, aborda a integridade moral com tons absurdos e tragicômicos
Crédito das fotos: Rogério Alves.
“Não vou contar a história para tirar o prazer das descobertas do público. E pediremos sempre à platéia ao final de cada apresentação: não contem nada da trama a ninguém”, diz o diretor Lúcio Lombardi sobre a montagem que fez para um clássico do teatro mundial, “A Visita da Velha Senhora”, peça escrita pelo dramaturgo suíço Friedrich Dürrenmatt (1921-1990), considerado por muitos como o discípulo mais brilhante de Brecht com um teatro antiilusionista e corrosivo em seu ataque às instituições burguesas. Com realização da Galharufas Produções e incentivo do Prêmio Myriam Muniz, da Funarte, a peça estreia neste sábado, dia 03 de julho, cumprindo temporada sempre aos sábados e domingos, às 20h, no Teatro Barreto Júnior, até 1º de agosto. Os ingressos custam R$ 20 e R$ 10 (estudantes, professores com carteira e maiores de 60 anos).A justificativa para não contar a história é simples: “Dá agonia fazer teatro só pensando na gente de teatro. Eu quero fazer teatro para o povo. Penso é no público em geral e quero causar surpresas”, diz Lúcio Lombardi, diretor com larga experiência no mercado. Revelando que a peça, em tons cômicos, trágicos e especialmente absurdos, aborda a integridade moral de moradores de Gullen, pequena cidade da Europa central arrasada por violenta crise econômica, ele dá mais algumas pistas do que se verá no palco: “A trama se inicia como num romance cor de rosa, mas vai tomando outro tom, mais pesado. Você procura a comédia do início, mas ela já não existe mais”. A história é fantasiosa e trata da volta de Clara Zahanassian à sua terra natal. Hoje ela é a mulher mais rica do mundo, enquanto sua cidadezinha está falida (é o que se pode dizer do surpreendente enredo)."A Visita da Velha Senhora" foi chamada por seu autor de "comédia trágica em três atos". A peça estreou em 1956, na Suíça, mas foi montada em praticamente todo o mundo. No Brasil, Cacilda Becker fez o papel principal, em 1962, sob direção do seu marido, Walmor Chagas, e, elogiadíssima, conseguiu uma das mais impressionantes caracterizações de sua carreira como a protagonista. Em 1989, no Recife, Marco Camarotti fez uma primeira, e até então, versão do texto em Pernambuco, com alunos do extinto Curso de Formação de Atores da UFPE. A peça ataca ferozmente a integridade das pessoas tentadas pelo dinheiro. Há muitas reviravoltas na trama e segredos que vão surpreender o público, certamente. Uma história, divertida em alguns momentos, que vai fazer repensarmos no valor da dignidade humana nos tempos de ontem e hoje. “Por isso prefiro usar a classificação de tragicomédia, um elemento bem próprio do teatro de hoje: aquele que provoca o riso, mas com elementos também sérios”, conclui o diretor.Com ares de uma grande produção, são nada menos que dezessete atores em cena (coisa rara nos tempos de hoje!), desdobrando-se em mais de trinta personagens. No elenco, gente de talento como Sônia Bierbard no papel da protagonista, Júlio Rocha, Edinaldo Ribeiro, Gilberto Brito, Normando Roberto Santos, Jall Oliveira, Hermínia Mendes, Vicente Monteiro, o próprio Lúcio Lombardi, Ricardo Mourão, Roseane Tachilitsky, Morse Lyra, André Lombardi, Will Menezes, Marina Duarte, Pascoal Filizola e Filipe Endrio, reunindo intérpretes bastante experientes e alguns mais novatos. A tradução é de Yolanda Oliveira, com adaptação de Lúcio Lombardi. Detalhe: quase 20% do orçamento da peça foi direcionado aos direitos autorais (International Editors Company). São mais de 60 figurinos e 40 pares de sapatos. Figurinos e adereços de Walther Holmes e cenários de Lúcio Lombardi.
No papel de Clara Zahanassian, a protagonista da história, Sônia Bierbard também diz sobre a peça: “Li muitos anos atrás e fiquei apaixonada imediatamente. Quando me convidaram, perguntei se eu iria mesmo viver esta personagem maravilhosa! Enigmática é a palavra que a define melhor. Acredito que há várias Claras numa só. E nesse ano de eleições, o texto cai como uma luva por abordar valores morais e o poder da grana”, confessa. Mas o diretor avisa: “Diferente de Brecht, Dürrenmatt não toma partido nem mostra luz no fim do túnel. E atesta: a humanidade é mesmo cheia de defeitos”, conclui. Vale registrar que há personagens estranhíssimos no enredo, como dois eunucos cegos e fofoqueiros, Koby e Loby; dois gangsters que são carregadores particulares de madame; e um mordomo bastante sinuoso (papel do diretor Lúcio Lombardi). Entre as frases inesquecíveis da protagonista, destaque para uma pérola sobre o casamento (ela chega ao oitavo marido sem maiores pudores): “Afinal de contas, mordomo a gente tem para a vida toda, logo, os maridos é que devem adaptar-se”.
No comando desta grande realização teatral, Lúcio Lombardi já é bastante experiente como ator e diretor, com atuação especialmente nas décadas de 1960 a 1980, mas ficou muito anos afastado do palco como diretor, desde 1992 com “O Casamento Suspeitoso”, de Ariano Suassuna, pela Cooperarteatro. Com exceção da “Paixão de Cristo da Nova Jerusalém”, que assumiu a partir de 1997, dividindo a direção em parceria com Carlos Reis, ele só voltou a dirigir em palco convencional com “O Crime do Padre Amaro”, de Eça de Queiroz, em 2008, pela Galharufas Produções. “Isso porque o produtor Taveira Júnior insistiu muito”, conta. “A Visita da Velha Senhora” é um de seus textos preferidos. Fundada em 1994, a Galharufas Produções também já montou, entre outros trabalhos para adultos e crianças, um outro espetáculo com elenco enorme, “O Cortiço”, de Aluísio Azevedo, em 2002, com direção de Emmanuel David D’Lúcard e 25 atores em cena. Vale conferir esta visita cheia de mistérios...
“A Visita da Velha Senhora” já fez duas apresentações em junho, no mesmo Teatro Barreto Júnior, como pré estréia apenas para amigos e convidados.
Valeu! Leidson Ferraz 3222 0025 / 9292 1316.