quarta-feira, 21 de julho de 2010



ESPETÁCULO “CHAT” NO TEATRO JOAQUIM CARDOZO
Montagem investiga as relações entre o homem e a Internet
e debate questões urgentes do mundo contemporâneo



O espetáculo CHAT, com texto do venezuelano Gustavo Ott e direção de Rodrigo Dourado. INÉDITO NO BRASIL, CHAT é uma provocação sobre temas urgentes para o nosso tempo: Islã, terrorismo, conflitos religiosos, Oriente vs Ocidente, Internet, violência juvenil, fluxos migratórios e tantas questões da ordem do dia. São seis narrativas-mestras imbricadas como um HIPERTEXTO, numa articulação fragmentária e livre que pretende, do ponto de vista formal, traduzir a sensação de deriva e de instabilidade do ato de NAVEGAR, em sua acepção contemporânea.
Em cena, vão-se abrindo janelas para histórias como a de DYLAN17, um adolescente iniciado sexualmente nas tramas da Rede, que importa armas pela Net e pretende se vingar de todas as “minorias detestáveis” que o cercam, promovendo um gesto ÉPICO em sua escola. PILARSUR, que sonha em viver o eldorado americano, mas tem de passar pela violenta experiência da migração ilegal; BORIS22, um professor de classe média, esmagado pela inércia cotidiana, que se converte ao Islã e planeja sair da invisibilidade com um gesto desesperado; ou mesmo 80MIN, um pedófilo que busca vítimas em salas de bate-papo.
CHAT mergulha nas narrativas que ocupam o noticiário diariamente e por isso já se banalizaram, sem, no entanto, redundá-las. Aos TIPOS que são cotidianamente condenados, massacrados e execrados pela falsa moral contemporânea; àqueles que permanecem invisíveis, tornando-se apenas peças dentro do quebra-cabeça político-econômico do mundo pós-11 de Setembro, CHAT pretende dar voz, num procedimento dramatúrgico altamente ousado, que hibridiza as formas lírica, épica e dramática, com o objetivo de oferecer múltiplas perspectivas e abordagens a essas narrativas aparentemente banais, despertando o olhar da plateia para o que permanece invisível e oculto.
Extraindo poesia da violência, aproximando do espectador os párias silenciados, investigando em profundidade o homem esmagado pela globalização, pelas macroestruturas, pelos conflitos culturais, pelos interesses do capital, CHAT lança um olhar atento sobre as relações humanas no ciberespaço, onde contatos infinitos acontecem, conexões improváveis se estabelecem, fronteiras são rompidas. A Internet é, assim, tomada como um espaço de teatralidade, onde os indivíduos podem assumir novas identidades, viver outros personagens, encenar suas fantasias.
ENCENAÇÃO - A montagem persegue os princípios da épica-brechtiana, na tentativa de superar uma abordagem dramática das personagens e de suas vidas – que os enxergaria como sujeitos de suas próprias historias, talvez apenas vitimas, talvez apenas algozes. Assim, tenta-se vencer o entendimento de que o mundo se move a partir de CONFLITOS da ordem subjetiva e procura-se expor as CONTRADIÇÕES das quais resultam esses sujeitos, tensionados entre forças superiores – econômicas, sociais, culturais, religiosas – e resíduos de autonomia.
Como performers, os atores vão oferecendo à plateia suas leituras das personagens, contradizendo-os, iluminando diferentes prismas de cada indivíduo e de cada narrativa, comentando-os, mergulhando em suas subjetividades, duvidando das superfícies e das interpretações aligeiradas, virando pelo avesso tudo o que parece direito. Em busca de uma teatralidade primeva, os performers trazem malas, nas quais carregam os “cacos” que lhes permitirão tecer aquelas narrativas. A partir desses “pedaços”, a montagem vai sendo construída. O primeiro ato tem como cenário as salas de bate-papo nas quais as personagens vão estabelecendo suas conexões. Já o segundo ato toma lugar no mundo “real”, quando as situações tecidas nos ambientes virtuais chegam a termo.
Na busca pelo efeito de estranhamento/distanciamento, CHAT traz um grupo de atores/actantes/jogadores que não se identificam com apenas uma personagem, mas atuam sobre várias delas. Os performers afastam-se de uma abordagem totalizadora desses indivíduos, mas, ao contrário, perseguem uma composição deliberadamente parcial, fragmentária, desconstrutiva, desunificadora, num esforço de desmonte e exposição. Uma aproximação que pretende mais levantar dúvidas, hipóteses e problemas do que conclusões e veredictos.
Ainda em busca do efeito de estranhamento, o primeiro ato é totalmente construído tomando por base a noção de TEATRALIDADE, de JOGO, de FARSA. “Considerando que seus diálogos se passam em salas de bate-papo, ambientes virtuais onde as personagens assumem diversas máscaras - teatralizando-se -, optamos por uma leitura não realista de cada fragmento em questão – excluindo qualquer relação direta homem-computador. Aqui, ao contrário, cada quadro é tratado como uma cena hiperteatral, com personagens-tipo, caricaturas. Buscamos, assim, em cada pequeno fragmento, problematizar as camadas mais visíveis de leitura, propondo formas “estranhas” que atribuam outros sentidos aos diálogos em questão, CONTRADIZENDO as leituras mais superficiais e evidentes sobre as personagens. Oferecendo à plateia novos e inusitados ângulos de visão”, afirma o diretor Rodrigo Dourado.
“Já no segundo ato, quando a realidade invade a cena, nossa cena se desloca do farsesco e privilegia o tom narrativo, confessional, os depoimentos de cada personagem em foco. Considerando que, formalmente, o texto sofre, aqui, um deslocamento sensível das formas dialogadas para as estruturas monológicas, depoísticas, assumimos o testemunho como forma central, com o intuito político de aproximar a plateia dessas narrativas, desses indivíduos, quase sempre silenciados, sentenciados sumariamente. Como no caso da personagem DYLAN17, um pequeno ‘monstro’, ao qual CHAT dá voz”, esclarece.
CHAT trabalha assim com o conceito central de DERIVA. Tomando a NAVEGAÇÃO como modelo de experiência no mundo virtual; o HIPERTEXTO como metáfora espaço-temporal, a encenação busca a instabilidade narrativa, o desordenamento, a falta de bússola, de prumo e de ancoragem, como princípios de construção da cena, fazendo com que os espectadores desenhem, cada um a seu modo, essas trajetórias e travessias de vida que se tenta MOSTRAR cenicamente. Embarcando numa viagem sem destino, sem rota definida, imprecisa e sem mapa.
E é assim, marcando o lugar do teatro como território do humano e do artesanal, que CHAT finca sua CONTRADIÇÃO primeira: falar de tecnologia sem recorrer a ela, sem entronizá-la, sem qualquer vestígio de “tecnofilia”. A encenação busca debater a questão CIVILIZAÇÃO vs BARBÁRIE, sem fazer o elogio da tecnologia, sem assumi-la como redentora e, especialmente, sem fetichizá-la. O que interessa à montagem de CHAT é enxergar o homem que se configura no ciberespaço, os contatos, as conexões e as subjetividades que o tecido virtual complexificam, investigando o que do humano se preserva e se modifica a partir do advento e da revolução da Internet.
“Apesar de falar do homem no ambiente virtual, portanto fantasmagórico, evanescente; optamos por ressaltar o corpo do ator presentificado, como evidência teatral irreversível, mas exploramos nesse corpo as infinitas possibilidades de jogo, de teatralização, de virtualização. Um corpo palpável, material, mas que se questiona, se reconstrói, se mascara, se traveste. E é aí que reside o conceito de virtualidade de nosso espetáculo. A um só tempo, reconhecendo o caráter virtual da experiência contemporânea, mas marcando a materialidade do trabalho teatral. Uma CONTRADIÇÃO em plena consonância com nosso jogo épico”, complementa o diretor.
Nesse sentido, o Grupo Teatro de Fronteira, que agora se lança, assume como projeto de pesquisa investigar os temas e as questões contemporâneas, sem perder de vista o teatro e seus recursos como ferramentas expressivas e o homem como objeto principal de sua cena.
SOBRE O AUTOR - Gustavo Ott (Caracas, 1963) formou-se em Comunicação Social pela Universidade Católica Andrés Bello (UCAB, 1991). Participou do International Writing Program da Universidad de Iowa em 1993 e da Residence Internationale Aux Recollets em Paris em 2006. Ganhou o Prêmio Internacional de Dramaturgia Tirso de Molina (1998, Espanha) por "80 Dientes, 4 Metros e 200 Kilos", o Prêmio Internacional Ricardo López Aranda (2003, Espanha) por "Tu Ternura Molotov", 2º colocado no Concurso Nacional de Criação Contemporânea e Dramaturgia Inovadora (Caracas, 2006) por "120 Vidas x Minuto", o Accesit Prêmio de Dramaturgia de Torreperogil (Espanha, 2007) por "Monstros no closet, Ogros embaixo da cama". Em 2002 e 2003 foi eleito para participar do programa "New Works Now!" do The Public Theater de Nova York com "80 Dientes…" e "Dois Amores e Um Bicho" e também do Programa de Dramaturgia de La Mousson D'Ete na França e "La Mousson a Paris" da Comedie Française, dirigido por Michael Didym. Em ambas as oportunidades com "Photomaton". Em 2005, foi apresentada de novo "Deux Amours..." no Studio da Comedie Française, dirigida por Vicent Colin durante a Semaine de la Caraibe, organizada por José Pliya. Suas obras foram traduzidas ao Inglês, Italiano, Alemão, Francês, Russo, Checo, Português, Polaco, Húngaro, Japonês, Grego, Catalão, etc. Sua estréia pública foi com o grupo Textoteatro e a comédia "Divorciadas Evangélicas e Vegetarianas" (1989). A este sucesso, seguiram outras comédias "Apostando a Elisa" (1990) e "Céuzinho Lindo" (1990), peças onde já anunciava esse estilo "raro, divertido e cruel". Em 1992 inaugurou o Teatro San Martín de Caracas, instituição da qual dirige. Ott escreve para o grande público, mas constrói suas obras com formas complexas, como por exemplo "Querem-me Muito" (1993), duas histórias de amor de duas gerações distintas, armadas como quadros simétricos, "Linda Gatinha" (1992), estreada também nos Estados Unidos, "Nunca disse que era uma Menina Boa" (1992), outra de suas obras mais traduzidas e representadas, também produzida nos estados Unidos em 1997 e que toca no tema da violência juvenil.A Casa de América de Madrid editou em 2002 "Dois Amores e um Bicho", obra sobre o tema do ódio com a qual inaugura uma nova etapa em seu estilo dramatúrgico, com poucos vínculos com o que havia escrito até esse momento. "Dois Amores..." é imediatamente traduzida ao Inglês, Francês e Alemão, estreando em Caracas em 2004, dirigida pelo autor. Com o título "Deux Amours et une pettite bette" entreou em Lyon, França em dezembro de 2003. Suas peças já foram publicadas também na Espanha, França, Colômbia, México, Cuba e Venezuela. Em 2006, “Dois Amores e Um Bicho” foi apresentada em Curitiba/PR, pelo grupo ALAMEDA Cia. Teatral, participando do 2º Ciclo de Leituras Dramáticas – Autores Latinos, realizado pela Fundação Teatro Guaíra, contando com a presença de Gustavo Ott.
CONTATOS: Rodrigo Dourado (88183672), Wellington Jr. (91128030), Arthur Canavarro (86174175)





SERVIÇO:
O quê? CHAT
Onde? Teatro Joaquim Cardozo
Quando? Sábados e Domingos, 20h (De 17 de Julho e 29 de Agosto)
Quanto? R$ 10 e R$ 5



FICHA TÉCNICA
Grupo: Teatro de Fronteira
Autor: Gustavo Ott
Tradução: Rodrigo dourado e Wellington Jr.
Direção Geral: Rodrigo Dourado
Elenco: Arthur Canavarro, Danilo Tácito, Kiko Gouveia, Patrícia Fernandes
Dramaturgismo: Wellington Jr.
Preparação de Elenco: Carlos Ferrera e Wellington Jr.
Direção de Arte: Java Araújo, Rodrigo Dourado e Patrícia Ferrnandes
Desenho de Luz: Dado Sodi
Sonoplastia: André George
Execução de Luz: Bruno Britto
Execução de Som: Nelson Lafayette

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