quarta-feira, 21 de julho de 2010

Em SETEMBRO...

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Aguardem!!!






"O PALHAÇO JUREMA E OS PEIXINHOS DOURADOS"


Quintas e Sextas às 20h
Teatro Hermilo Borba Filho
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Dramático e analítico, o Palhaço Jurema e os Peixinhos Dourados é um espetáculo teatral inspirado no conto O Palhaço, do escritor pernambucano Hermilo Borba Filho. A peça conta a história do Palhaço Jurema em sua decadência etária, de vida social e profissional, e se passa num velho trailler de circo. No enredo, o imaginário se confunde com o real por meio dos devaneios da personagem: resmungos, sonhos, canções, lembranças e lamentos convivem com a solidão e a falta de sentido de sua vida. Neste ambiente claustrofóbico, pobre e decadente, se revela a insatisfação e a constatação da inutilidade do esforço para fazer os outros rirem, de manter a arte milenar do palhaço. Uma metáfora da condição humana traduzida em seu cotidiano decadente, ao invocar Fernando Pessoa dizendo: "Trabalhei a vida inteira e só gerei cansaço".
O espetáculo é também uma crítica que alerta para o completo abandono no qual vivem os circos populares no Brasil. Companhias que andam de cidade em cidade e que contam com poucas políticas públicas que os ampare. Um retrato da condição real dos que vivem da arte circense em nosso país.


O ESPETÁCULO


A adaptação de "O Palhaço" teve Estréia Internacional em 24/11/2007 no X Entretanto-MIT/Valongo (Mostra Internacional de Teatro) realizada em Portugal, recebendo enúmemos elogios de público e crítica. Já em 2008, participou do Janeiro de Grandes Espetáculos, no qual foi indicado aos Prêmios de Melhor Ator e Melhor Atriz Coadjuvante e do Festival Sesc Palco Giratório PE, sempre com excelente aceitação. Ainda em 2008 participou do Aldeia do Velho Chico, SESC PE, em Agosto e em 2009 da Ribalta Pernambucana, um projeto da FUNARTE que marcou a reinauguração do teatro Glauce Rocha


O GRUPO (só a companhia)


Fundada em 2001 pelo encenador pernambucano Carlos Carvalho, a Companhia Construtores de Histórias surge do desejo de desenvolver um trabalho de pesquisa consistente a partir dos espetáculos de tradições populares de Pernambuco e as suas possibilidades de recriação cênica - quando combinadas a técnicas do teatro contemporâneo. Quer seja no que se refere a temática, preparação dos atores ou à estética visual e à sonoridade do espetáculo, num trabalho que une a tradição à experiências práticas da cena. A Companhia realiza ainda um estudo sistemático de filosofia, de antropologia cultural e teatral, especialmente dos escritos deixados pelo encenador, escritor, dramaturgo e pesquisador pernambucano, Hermilo Borba Filho. Além do "Palhaço Jurema e os Peixinhos Dourados", se destacam os seguintes espetáculos: "Mucurana o Peixe" (Prêmio Mirian Muniz de Teatro 2006, Prêmios de Melhor Ator e Melhor Ator Coadjuvante no Festival Janeiro de Grandes Espetáculos 2008) e "Zumba ou A gloriosa vida e o triste fim de Zumba sem Dente" (Prêmio Fomento às Artes Cênicas da Prefeitura do Recife 2001, Prêmio de Melhor Espetáculo e Melhor Ator Coadjuvante no Festival Janeiro de Grandes Espetáculos 2002, Prêmios de Melhor Direção, Melhor Ator, Melhor Trilha Original no Festival Nordestino de Teatro de Guaramiranga-CE, em 2002).

FICHA TÉCNICA

Elenco: Gilberto Brito e Andrezza Alves / Texto Original: Hermilo Borba Filho /
Dramaturgia e Encenação: Carlos Carvalho / Direção de Arte: Marcondes Lima/
Desenho de Luz: Sávio Uchoa e Elias Mouret / Direção Musical e Sonoplastia: Fernando Lobo / Preparação Vocal: Evenilde / Oficina de Palhaço: Palhaço Cascudo / Assistência de Direção e Operação de Som: Quiercles Santana - Operação de Som: José Neto / Operação de luz: Luciana Raposo/ Fotos e Programação Visual: Carlos Carvalho, George Cabral e Sávio Uchoa / Projeto Técnico de Cenário e Iluminação: Marcondes Lima, Saulo Uchôa e Sávio Uchoa / Confecção de Bonecos e Adereços: Fábio Caio / Confecção de Cenário: Saulo Uchôa, George Cabral, Leonardo, Júnior e Sérgio / Confecção de Figurino: Maria Lima / Montagem: Luiz Galdino e Nicolau Guilherme/ Produção Executiva: Andrezza Alves e Quiercles Santana/ Direção Geral: Carlos Carvalho / Realização: Companhia Construtores de Histórias.



ESPETÁCULO “CHAT” NO TEATRO JOAQUIM CARDOZO
Montagem investiga as relações entre o homem e a Internet
e debate questões urgentes do mundo contemporâneo



O espetáculo CHAT, com texto do venezuelano Gustavo Ott e direção de Rodrigo Dourado. INÉDITO NO BRASIL, CHAT é uma provocação sobre temas urgentes para o nosso tempo: Islã, terrorismo, conflitos religiosos, Oriente vs Ocidente, Internet, violência juvenil, fluxos migratórios e tantas questões da ordem do dia. São seis narrativas-mestras imbricadas como um HIPERTEXTO, numa articulação fragmentária e livre que pretende, do ponto de vista formal, traduzir a sensação de deriva e de instabilidade do ato de NAVEGAR, em sua acepção contemporânea.
Em cena, vão-se abrindo janelas para histórias como a de DYLAN17, um adolescente iniciado sexualmente nas tramas da Rede, que importa armas pela Net e pretende se vingar de todas as “minorias detestáveis” que o cercam, promovendo um gesto ÉPICO em sua escola. PILARSUR, que sonha em viver o eldorado americano, mas tem de passar pela violenta experiência da migração ilegal; BORIS22, um professor de classe média, esmagado pela inércia cotidiana, que se converte ao Islã e planeja sair da invisibilidade com um gesto desesperado; ou mesmo 80MIN, um pedófilo que busca vítimas em salas de bate-papo.
CHAT mergulha nas narrativas que ocupam o noticiário diariamente e por isso já se banalizaram, sem, no entanto, redundá-las. Aos TIPOS que são cotidianamente condenados, massacrados e execrados pela falsa moral contemporânea; àqueles que permanecem invisíveis, tornando-se apenas peças dentro do quebra-cabeça político-econômico do mundo pós-11 de Setembro, CHAT pretende dar voz, num procedimento dramatúrgico altamente ousado, que hibridiza as formas lírica, épica e dramática, com o objetivo de oferecer múltiplas perspectivas e abordagens a essas narrativas aparentemente banais, despertando o olhar da plateia para o que permanece invisível e oculto.
Extraindo poesia da violência, aproximando do espectador os párias silenciados, investigando em profundidade o homem esmagado pela globalização, pelas macroestruturas, pelos conflitos culturais, pelos interesses do capital, CHAT lança um olhar atento sobre as relações humanas no ciberespaço, onde contatos infinitos acontecem, conexões improváveis se estabelecem, fronteiras são rompidas. A Internet é, assim, tomada como um espaço de teatralidade, onde os indivíduos podem assumir novas identidades, viver outros personagens, encenar suas fantasias.
ENCENAÇÃO - A montagem persegue os princípios da épica-brechtiana, na tentativa de superar uma abordagem dramática das personagens e de suas vidas – que os enxergaria como sujeitos de suas próprias historias, talvez apenas vitimas, talvez apenas algozes. Assim, tenta-se vencer o entendimento de que o mundo se move a partir de CONFLITOS da ordem subjetiva e procura-se expor as CONTRADIÇÕES das quais resultam esses sujeitos, tensionados entre forças superiores – econômicas, sociais, culturais, religiosas – e resíduos de autonomia.
Como performers, os atores vão oferecendo à plateia suas leituras das personagens, contradizendo-os, iluminando diferentes prismas de cada indivíduo e de cada narrativa, comentando-os, mergulhando em suas subjetividades, duvidando das superfícies e das interpretações aligeiradas, virando pelo avesso tudo o que parece direito. Em busca de uma teatralidade primeva, os performers trazem malas, nas quais carregam os “cacos” que lhes permitirão tecer aquelas narrativas. A partir desses “pedaços”, a montagem vai sendo construída. O primeiro ato tem como cenário as salas de bate-papo nas quais as personagens vão estabelecendo suas conexões. Já o segundo ato toma lugar no mundo “real”, quando as situações tecidas nos ambientes virtuais chegam a termo.
Na busca pelo efeito de estranhamento/distanciamento, CHAT traz um grupo de atores/actantes/jogadores que não se identificam com apenas uma personagem, mas atuam sobre várias delas. Os performers afastam-se de uma abordagem totalizadora desses indivíduos, mas, ao contrário, perseguem uma composição deliberadamente parcial, fragmentária, desconstrutiva, desunificadora, num esforço de desmonte e exposição. Uma aproximação que pretende mais levantar dúvidas, hipóteses e problemas do que conclusões e veredictos.
Ainda em busca do efeito de estranhamento, o primeiro ato é totalmente construído tomando por base a noção de TEATRALIDADE, de JOGO, de FARSA. “Considerando que seus diálogos se passam em salas de bate-papo, ambientes virtuais onde as personagens assumem diversas máscaras - teatralizando-se -, optamos por uma leitura não realista de cada fragmento em questão – excluindo qualquer relação direta homem-computador. Aqui, ao contrário, cada quadro é tratado como uma cena hiperteatral, com personagens-tipo, caricaturas. Buscamos, assim, em cada pequeno fragmento, problematizar as camadas mais visíveis de leitura, propondo formas “estranhas” que atribuam outros sentidos aos diálogos em questão, CONTRADIZENDO as leituras mais superficiais e evidentes sobre as personagens. Oferecendo à plateia novos e inusitados ângulos de visão”, afirma o diretor Rodrigo Dourado.
“Já no segundo ato, quando a realidade invade a cena, nossa cena se desloca do farsesco e privilegia o tom narrativo, confessional, os depoimentos de cada personagem em foco. Considerando que, formalmente, o texto sofre, aqui, um deslocamento sensível das formas dialogadas para as estruturas monológicas, depoísticas, assumimos o testemunho como forma central, com o intuito político de aproximar a plateia dessas narrativas, desses indivíduos, quase sempre silenciados, sentenciados sumariamente. Como no caso da personagem DYLAN17, um pequeno ‘monstro’, ao qual CHAT dá voz”, esclarece.
CHAT trabalha assim com o conceito central de DERIVA. Tomando a NAVEGAÇÃO como modelo de experiência no mundo virtual; o HIPERTEXTO como metáfora espaço-temporal, a encenação busca a instabilidade narrativa, o desordenamento, a falta de bússola, de prumo e de ancoragem, como princípios de construção da cena, fazendo com que os espectadores desenhem, cada um a seu modo, essas trajetórias e travessias de vida que se tenta MOSTRAR cenicamente. Embarcando numa viagem sem destino, sem rota definida, imprecisa e sem mapa.
E é assim, marcando o lugar do teatro como território do humano e do artesanal, que CHAT finca sua CONTRADIÇÃO primeira: falar de tecnologia sem recorrer a ela, sem entronizá-la, sem qualquer vestígio de “tecnofilia”. A encenação busca debater a questão CIVILIZAÇÃO vs BARBÁRIE, sem fazer o elogio da tecnologia, sem assumi-la como redentora e, especialmente, sem fetichizá-la. O que interessa à montagem de CHAT é enxergar o homem que se configura no ciberespaço, os contatos, as conexões e as subjetividades que o tecido virtual complexificam, investigando o que do humano se preserva e se modifica a partir do advento e da revolução da Internet.
“Apesar de falar do homem no ambiente virtual, portanto fantasmagórico, evanescente; optamos por ressaltar o corpo do ator presentificado, como evidência teatral irreversível, mas exploramos nesse corpo as infinitas possibilidades de jogo, de teatralização, de virtualização. Um corpo palpável, material, mas que se questiona, se reconstrói, se mascara, se traveste. E é aí que reside o conceito de virtualidade de nosso espetáculo. A um só tempo, reconhecendo o caráter virtual da experiência contemporânea, mas marcando a materialidade do trabalho teatral. Uma CONTRADIÇÃO em plena consonância com nosso jogo épico”, complementa o diretor.
Nesse sentido, o Grupo Teatro de Fronteira, que agora se lança, assume como projeto de pesquisa investigar os temas e as questões contemporâneas, sem perder de vista o teatro e seus recursos como ferramentas expressivas e o homem como objeto principal de sua cena.
SOBRE O AUTOR - Gustavo Ott (Caracas, 1963) formou-se em Comunicação Social pela Universidade Católica Andrés Bello (UCAB, 1991). Participou do International Writing Program da Universidad de Iowa em 1993 e da Residence Internationale Aux Recollets em Paris em 2006. Ganhou o Prêmio Internacional de Dramaturgia Tirso de Molina (1998, Espanha) por "80 Dientes, 4 Metros e 200 Kilos", o Prêmio Internacional Ricardo López Aranda (2003, Espanha) por "Tu Ternura Molotov", 2º colocado no Concurso Nacional de Criação Contemporânea e Dramaturgia Inovadora (Caracas, 2006) por "120 Vidas x Minuto", o Accesit Prêmio de Dramaturgia de Torreperogil (Espanha, 2007) por "Monstros no closet, Ogros embaixo da cama". Em 2002 e 2003 foi eleito para participar do programa "New Works Now!" do The Public Theater de Nova York com "80 Dientes…" e "Dois Amores e Um Bicho" e também do Programa de Dramaturgia de La Mousson D'Ete na França e "La Mousson a Paris" da Comedie Française, dirigido por Michael Didym. Em ambas as oportunidades com "Photomaton". Em 2005, foi apresentada de novo "Deux Amours..." no Studio da Comedie Française, dirigida por Vicent Colin durante a Semaine de la Caraibe, organizada por José Pliya. Suas obras foram traduzidas ao Inglês, Italiano, Alemão, Francês, Russo, Checo, Português, Polaco, Húngaro, Japonês, Grego, Catalão, etc. Sua estréia pública foi com o grupo Textoteatro e a comédia "Divorciadas Evangélicas e Vegetarianas" (1989). A este sucesso, seguiram outras comédias "Apostando a Elisa" (1990) e "Céuzinho Lindo" (1990), peças onde já anunciava esse estilo "raro, divertido e cruel". Em 1992 inaugurou o Teatro San Martín de Caracas, instituição da qual dirige. Ott escreve para o grande público, mas constrói suas obras com formas complexas, como por exemplo "Querem-me Muito" (1993), duas histórias de amor de duas gerações distintas, armadas como quadros simétricos, "Linda Gatinha" (1992), estreada também nos Estados Unidos, "Nunca disse que era uma Menina Boa" (1992), outra de suas obras mais traduzidas e representadas, também produzida nos estados Unidos em 1997 e que toca no tema da violência juvenil.A Casa de América de Madrid editou em 2002 "Dois Amores e um Bicho", obra sobre o tema do ódio com a qual inaugura uma nova etapa em seu estilo dramatúrgico, com poucos vínculos com o que havia escrito até esse momento. "Dois Amores..." é imediatamente traduzida ao Inglês, Francês e Alemão, estreando em Caracas em 2004, dirigida pelo autor. Com o título "Deux Amours et une pettite bette" entreou em Lyon, França em dezembro de 2003. Suas peças já foram publicadas também na Espanha, França, Colômbia, México, Cuba e Venezuela. Em 2006, “Dois Amores e Um Bicho” foi apresentada em Curitiba/PR, pelo grupo ALAMEDA Cia. Teatral, participando do 2º Ciclo de Leituras Dramáticas – Autores Latinos, realizado pela Fundação Teatro Guaíra, contando com a presença de Gustavo Ott.
CONTATOS: Rodrigo Dourado (88183672), Wellington Jr. (91128030), Arthur Canavarro (86174175)





SERVIÇO:
O quê? CHAT
Onde? Teatro Joaquim Cardozo
Quando? Sábados e Domingos, 20h (De 17 de Julho e 29 de Agosto)
Quanto? R$ 10 e R$ 5



FICHA TÉCNICA
Grupo: Teatro de Fronteira
Autor: Gustavo Ott
Tradução: Rodrigo dourado e Wellington Jr.
Direção Geral: Rodrigo Dourado
Elenco: Arthur Canavarro, Danilo Tácito, Kiko Gouveia, Patrícia Fernandes
Dramaturgismo: Wellington Jr.
Preparação de Elenco: Carlos Ferrera e Wellington Jr.
Direção de Arte: Java Araújo, Rodrigo Dourado e Patrícia Ferrnandes
Desenho de Luz: Dado Sodi
Sonoplastia: André George
Execução de Luz: Bruno Britto
Execução de Som: Nelson Lafayette

terça-feira, 6 de julho de 2010

Medléia Mais ou Menos Doida


Uma Medéia Pop e Kitsch

Por Bruno Siqueira
MADLEIA. Medéia. Vanderléia. MAD. Mais ou menos DOIDA. Madleia + ou – doida, o mais novo espetáculo de Carlos Bartolomeu, roteirizado e protagonizado por Henrique Celibi, já traz no título o sentido elementar da encenação: a mestiçagem, a transubstanciação, a brasilidade flagrada pelo viés do popular. Mas um popular além da teatralização do popular que os discursos hegemônicos, mesmo contando com menos seguidores agora, ainda insistem em manter. Não o popular domesticado, rural, pré-industrial. Mas o popular urbano, contaminado e transformado pela indústria cultural.


Do ponto de vista formal, o espetáculo não carrega nenhuma proposta revolucionária. Como diz o próprio encenador no programa da peça, a encenação é “arrancada do surrado ou do repetitivo”. Três são, porém, seus méritos, a meu ver.


A opção pelo brega, pelo melodramático, pela indústria do entretenimento como traços estilísticos faz com que os elementos da cena se harmonizem em prol de um efeito estético gratificante. O cenário e os adereços de Celibi se afinam muito bem com a proposta da encenação. O vermelho dominante remete ao pathos contido na tragédia grega, mas também, ao mesmo tempo, ao kitsch de alguns dos programas televisivos populares, com direito até a coraçãozinho de pelúcia.


O segundo ponto positivo do espetáculo consiste na sua mestiçagem. Há muito tempo já nos caiu a ficha de que a originalidade correspondia a um mito romântico, hoje difícil de se sustentar, senão por discursos ideologicamente comprometidos nas relações de poder. Nas tragédias clássicas, por exemplo, vê-se o dramaturgo bebendo na fonte dos mitos. O mérito artístico provinha na forma como os mitos eram focados, recortados, interpretados, renovados.


Qual a razão de se montar, nos dias de hoje, um texto clássico? No caso de Madleia + ou – doida, por que montar um espetáculo a partir de um motivo clássico? As grandes tragédias gregas lidam com temas ainda muito significativos para nós. No entanto, esses textos são significativos não pelo que significaram para os espectadores há mais de dois mil anos, mas pelo que significam nos dias de hoje. Ou seja, é a leitura contemporânea que dá sentido a um texto escrito há mais de dois milênios.


Por exemplo, em plena ditadura militar, Chico Buarque e Paulo Pontes, para além de esgotar o conflito individual de sua protagonista (Joana), fazem uma leitura política de Medéia em Gota d’água, ao ambientar a peça num complexo habitacional, a Vila do Meio-Dia, revelando as dificuldades sofridas pela população da periferia, retrato tão adverso da imagem próspera que o governo militar pretendia divulgar do Brasil.


A dramaturgia de Celibi em Madleia + ou – doida parte de Medéia e faz uma leitura carnavalizante do mito grego. O olhar do dramaturgo não se fixa nem na psicologia da personagem nem no viés político estrito que a peça carrega, mas na cultura hibridizante que transformará a tragédia de Eurípedes numa colagem de textos de diversas origens e de diversos matizes. Na peça, o dramaturgo grego convive com as seguintes personalidades: Chico Buarque, Paulo Pontes, Vanderléia, Roberto Carlos, Fernando Mendes, dentre outras. Claro que essa convivência se dá em termos de referências textuais.


Trata-se de uma paródia de Medéia, que dessacraliza a tragédia grega, inserindo-a numa cultura do entretenimento, sem, por isso, perder de vista a grande violência do amor, do abandono e do ciúme, temas subjacentes ao texto helênico.


O terceiro ponto alto do espetáculo é a atuação de Henrique Celibi. Seguro de seu trabalho, a ator dá vida a sua personagem numa interpretação vigorosa, bailando do lamento trágico, aos excessos melodramáticos e ao riso cômico, numa naturalidade própria apenas dos grandes atores.


Saliente-se também a participação de Daniel Silva, o qual, num excelente trabalho de expressão corporal, representou projeções da personagem Jasão e de forças místicas oriundas, possivelmente, da mente de Madleia. Suas aparições conferiram ao espetáculo grandes momentos de beleza plástica.


O encontro de dois grandes artistas, Carlos Bartolomeu e Henrique Celibi, resultou num trabalho instigante e representativo na trajetória artística de ambos, afinal Madleia + ou – doida é um espetáculo que descende das antológicas produções do Vivencial, grupo em que os dois participaram significativamente. Mas isso é assunto para outro texto...


Quanto ao espetáculo em foco, todos os artistas envolvidos estão de parabéns! Neste último sábado, no Marco Zero, a produção da Paixão de Cristo do Recife angariava milhares de espectadores; no Centro Cultural Apolo-Hermilo, Madleia + ou – doida reunia um público numeroso, que se deliciava com o trabalho produzido por Bartolomeu e Celibi. Diante de uma diversidade como a nossa, como conceber outra forma de cultura diferente da que foi oferecida pela encenação? É isto.
Criticas 2010