sábado, 21 de abril de 2007

O CÍRCULO DE GIZ CAUCASIANO




COMPANHIA DO LATÃO EM RECIFE



Quem foi conferir nesta sexta-feira dia 20 de abril, mesmo debaixo de um dilúvio a montagem O CÍRCULO DE GIZ CAUCASIANO, tradução de Manuel Bandeira e montagem dirigida por Sérgio de Carvalho que valoriza a força poética do texto original de Bertolt Brecht, pode conferir um dos grandes exemplos da nova safra do teatro nacional no momento. A companhia que completa 10 anos mostra o porque do respeito e da credibilidade adquirida durante todos esses anos. Com elenco afinado e direção primorosa o texto de Brecht, montado em homenagem aos 50 anos de ausência do escritor(Ago/1956), ganha uma montagem que chega até aqueles que a assistem de maneira contudente e poética.


Segue abaixo uma crítica por Beth Néspoli.

Recado político de Brecht, levado em espetáculo tocante
Cia. do Latão demonstra raro domínio da linguagem épica em montagem brilhante de O Círculo de Giz Caucasiano



Na montagem de O Círculo de Giz Caucasiano o primeiro e forte impacto positivo vem com a pertinente recriação do prólogo, que vai além da mera atualização temporal ou temática. Embora tome apenas sete das mais de cem páginas dessa peça de Bertolt Brecht, é recurso dramatúrgico de fundamental importância porque dá sentido e justifica o espetáculo que será apresentado e, mais amplamente, a própria arte. Tal função não escapou ao diretor Sérgio de Carvalho, pelo contrário, sua versão atualiza o essencial - a conexão entre vida e arte.


No original, o prólogo flagra um litígio por um pedaço de terra entre camponeses da antiga União Soviética. A decisão final - toma posse do vale não quem o possuía por direito legal, mas quem projetou irrigá-lo e fertilizá-lo - será comemorada com a representação de uma peça que, obviamente, tem como objetivo reforçar, ludicamente, a validade do conceito de justiça aplicado na decisão - o bem é de quem o merece - e, sobretudo, mostrar a impossibilidade de que tal justiça seja aplicada numa sociedade baseada no poder econômico e na propriedade privada, a não ser como exceção.


Ao escolher um assentamento do MST, em Sarapuí, SP, para ambientar o prólogo, o diretor não o faz para 'atualizar' o litígio, transformando camponeses soviéticos em 'assentados', o que truncaria sentidos, mas sim une atores e assentados em torno de uma discussão sobre o texto. A edição desse encontro, projetada no teatro, é bastante eloqüente seja pelas imagens, como o contraste entre a aridez do pasto cheio de tocos de árvores e a parte já irrigada do assentamento - que parece nos dizer que ali foi aplicado o conceito de justiça em questão - seja pelas palavras, uma vez que os próprios assentados se dão conta da diferença entre a realidade retratada no texto e a 'exceção' na conquista deles.




A revitalização do prólogo refunda o sentido da representação que se segue - uma lenda de origem chinesa sobre a disputa de um menino entre sua mãe de sangue e sua mãe de criação. Não por acaso, Brecht deixa bem claro que será um prestigiado e experiente cantor e poeta o responsável pela encenação. Recado do autor? Se os objetivos políticos-pedagógicos de Brecht são inequívocos - mascará-los é tudo que jamais quis, pelo contrário - ele também sabia que só seriam alcançados com bom teatro. E é exatamente isso o que nos oferece a Cia. do Latão.

Antes de mais nada, o longo exercício da linguagem épica reflete-se positivamente no palco, na leveza com que se faz em cena o trânsito entre drama e a narrativa. É admirável o domínio alcançado pelos atores do Latão nessa estética, especialmente Helena Albergaria e Ney Piacentini, que ora vivem plenamente os sentimentos e contradições dos personagens - trazendo à tona uma incrível gama deles - ora são atores/narradores, num trânsito que flui de tal forma que o espectador é conduzido ao mesmo movimento, da emoção ao distanciamento crítico, prazerosamente.

Sérgio de Carvalho optou por abrir mão das rígidas máscaras sugeridas no texto. Como tem um elenco de onze atores muito afiados - Rogério Bandeira, Luís Mármora, Rodrigo Bolzan estão entre os que vieram de outras companhias e se integraram perfeitamente à linguagem do Latão - os personagens ganharam em humanidade sem prejuízo de idéias que se pretende demonstrar.


A montagem consegue ser tão cristalina quanto o texto ao demonstrar o funcionamento do jogo das forças políticas e a ação desse jogo sobre os indivíduos. Entre as qualidades dessa montagem destaca-se a música, executada ao vivo, elemento fundamental na condução da trama. A direção musical de Martin Eikmeier é nada menos do que brilhante e o resultado é tão harmônico que, paradoxalmente, a música não desvia a nossa atenção para ela. Grande texto em encenação feliz da Cia. do Latão, O Círculo de Giz Caucasiano é espetáculo que toca, a um só tempo, corações e mentes, deleite intelectual e emocional. Como queria o autor.
Beth Néspoli
"Um dos Grandes momentos nos palcos pernambucanos esse ano"

sexta-feira, 13 de abril de 2007

Antônio Cadengue dirige Gustavo Haddad como michê de luxo e nu em espetáculo de João Silvério Trevisan



Por Gustavo Ranieri















Uma Quinta-feira Santa regada ao desdobramento da dor através de uma sessão sadomasoquista. É essa a temática do espetáculo teatral Hoje É Dia do Amor, que estréia nessa sexta-feira, dia 6 de abril, em São Paulo.Escrita por João Silvério Trevisan e dirigida por Antonio Cadengue, a peça, que faz parte do projeto E se fez a Praça Roosevelt em sete dias, é um monólogo com intensa interpretação de Gustavo Haddad, que vive um michê de luxo. O personagem diz que, na Quinta-feira Santa, Cristo instituiu o "dia do amor", e para viver essa experiência ele fica acorrentado nu a uma cruz, enquanto evoca trechos bíblicos e tenta desconstruir o sentido da dor.Em entrevista ao G Online, Trevisan contou que pretende causar com essa peça um sentimento de estranhamento. “Um sentimento de estranhamento porque não há como propor esse diálogo com a peça estabelecendo todo o contexto, toda a cena e o que acontece ao redor dela. É uma peça de impacto, um estranhamento através do qual eu estou devolvendo aos espectadores o que eles poderiam me perguntar. Eu suscito uma pergunta e a devolvo no final. Assim, a peça começa com um espelho e termina com um espelho enorme, para que os espectadores se contemplem, no sentido de se confrontarem com as suas próprias dores”, explica.Segundo Trevisan, que é colunista da G Magazine, o espetáculo não é inspirado em um fato real, mas é uma homenagem ao jornalista João Xavier (o jovem que foi discriminado, junto com o namorado, no Shopping Frei Caneca, em 2003, em São Paulo, fato que gerou o histórico beijaço público nas dependências do shopping no mesmo ano).“Eu tinha uma enorme admiração pelo João e não consegui digerir essa saída de cena dele (João Xavier se suicidou recentemente). A coisa então ficou machucando tanto que a peça saiu como uma reação ao suicídio do João”, revela o escritor.Esse suicídio está intrínseco no espetáculo, de acordo com Trevisan. “Meu personagem celebra o dia do amor, mas por conta da notícia de um amigo que se matou. É pra isso que eu utilizo a cena de sadomasoquismo que sempre acontece à beira do abismo, que é uma cena de grande radicalidade e por isso é uma experiência de valor de revelação.Além de ser encenado, o texto de Hoje É Dia do Amor fará parte do livro E se fez a Praça Roosevelt em sete dias, que contará com o texto de sete dramaturgos.



Serviço:Hoje É Dia do Amor

Teatro Satyros 1- Praça Franklyn Roosevelt, 124.

Tel: (11) 3258-6345



ENTREVISTA


Gustavo Haddad
Um michê sadomasoquista no lugar de Cristo















O ator que está monólogo Hoje é Dia do Amor, em cartaz em São Paulo, fala sobre a experiência de interpretar um michê de luxo, adepto ao sadomasoquismo e que permanece nu e amarrado todo o tempo em cena.

Aos 30 anos de idade o ator Gustavo Haddad já trilhou um longo caminho no teatro e televisão. Com toda a versatilidade de um talentoso ator, Gustavo ficou conhecido do grande público principalmente por sua participação em novelas como Canavial de Paixões, Como Uma Onda e em Cidadão Brasileiro, onde ele interpretou um enfermeiro homossexual.

Agora, na peça Hoje é Dia do Amor, de João Silvério Trevisan e direção de Antonio Cadengue, Gustavo enfrenta um duplo desafio: fazer seu primeiro monólogo e ainda por cima no papel de um michê de luxo adepto ao sadomasoquismo que numa Quinta-feira Santa tenta alcançar o limite da dor. “A peça tem toda uma simbologia cristã que vai chocar, um michê sadomasoquista no lugar de Cristo”, resume o ator.

Nessa entrevista Gustavo Haddad fala sobre os desafios do papel, onde ele fica nu e amarrado durante todo o espetáculo.

Segundo o João Silvério Trevisan, cinco atores pelo menos teriam se recusado a fazer esse espetáculo. O que te motivou a aceitar o convite?

O personagem e a possibilidade de atuação que ele proporciona. Eu não tenho pudor em relação ao personagem, os atores às vezes impõem limites pra carreira porque tem pudores. Pra mim o personagem não tem isso, o meu corpo na verdade é um mero instrumento para aquele personagem. Eu não preciso julgar aquele personagem para poder fazê-lo, não preciso concordar com as atitudes dele. Eu simplesmente empresto o meu corpo para ele durante um determinado tempo.

Quais as maiores dificuldades encontradas para fazer essa peça?

Decorar o texto. Foi muito difícil fazer um monólogo porque é o meu primeiro e você não tem um contraponto. Aquele texto tem que estar inteiro na sua cabeça do começo ao fim, pois eu estou o tempo todo parado, algemado e amarrado. Não tem nenhuma movimentação que me leve a lembrar do texto. A peça tem 1h10 de duração e são 32 paginas de texto corrido que eu tive de decorar.

E quanto tempo você demorou para ensaiar?

Ensaiei durante 20 dias, foi o tempo que tive para me preparar psicologicamente, emocionalmente e tecnicamente para fazer esse personagem, que é uma coisa diferente que eu nunca fiz na minha vida.

Como é ficar nu a peça inteira? Houve algum constrangimento?

Não, eu me preocupei muito no início com relação a estética, o que seria esse nu, se seria gratuito. Lendo a peça em primeiro momento eu pensei: ‘caralho, isso vai ficar exposto, vai ser um problema, como estarei ali pelado com um negócio preso no pênis?’. Mas depois foi chegando o cenário, a iluminação e agora é engraçado que me sinto coberto em cena e não exposto. Eu estou dentro de uma caixa que parece um oratório com sombras e um quadro do Paulo Sayeg atrás, como uma obra de arte. É na verdade uma obra de arte, um quadro, só que sadomasoquista.

Em Hoje é Dia do Amor você tentar fazer um desdobramento da dor. O que você espera que o público entenda desse espetáculo?

Eu acho que hoje em dia a dor e o sofrimento humano estão banalizados, as pessoas não se importam com mais nada. Alguém arrasta um menino por sete kilômetros, sai no jornal e todo mundo já esqueceu. As pessoas não ligam mais para a dor alheia. O meu personagem passa o tempo todo tentando controlar a dor, ele tem o controle total emocional e racional da dor. Eu acho que as pessoas ao darem de cara com uma pessoa dessa tão fria e calculista vão tentar rever os conceitos, o que é a dor e o que realmente faz sofrer.Mas você acredita que o público ficará chocado? Eu acho que o público vai ficar chocado a partir do momento que entrar no teatro, pois é uma cena chocante. Eu estou amarrado a uma cruz como Jesus Cristo e essa metáfora existe porque o meu personagem quer saber como foi o sofrimento de Cristo. Na história, o grande amor da vida dele se matou numa Quinta-feira Santa, que é o dia da Santa Ceia, quando Jesus disse: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei”. É por isso que a peça tem toda uma simbologia cristã que vai chocar, um michê sadomasoquista no lugar de Cristo.

Essa não é a primeira vez que você interpreta um homossexual, né?

Não, fiz um personagem homossexual na novela Cidadão Brasileiro, mas já tinha feito também em uma peça chamada Pobre Super Homem.

Alguma vez você ficou receoso de interpretar um homossexual?

Nunca fiquei, eu tenho minha sexualidade muito bem resolvida desde adolescente. Eu nunca tive problema com relação a isso e nem com relação a minha vontade e meus desejos. Eu sou uma pessoa que não racionalizo os meus desejos, eu sinto, pronto e acabou. Para mim eles são personagens, pessoas que eu acho interessante e não pela orientação sexual, mas pela forma como esses personagens encaram a vida. São personagens ricos, independente da orientação sexual.

Qual a sua visão sobre o universo gls?

Eu encaro na boa, acho que cada um deve ser feliz com o que sente, com os desejos que tem. Se cada um realizasse os seus desejos seria tão melhor, as pessoas iam se amar mais e aceitar a diferença melhor do que é aceita hoje em dia.

O que mais te agrada em Hoje é Dia do Amor?

É exatamente essa coisa da dor, essa tentativa de explicar a dor. É o mote da peça, essa função da dor na humanidade. Por que as pessoas sentem dor? Por que as pessoas querem fugir da dor o tempo inteiro e não enfrentam as coisas? Eu acho que a dor faz parte do crescimento, a gente precisa sofrer sim, a gente precisa tirar o melhor proveito dela.

Você freqüentou clubes de sadomasoquismo para estudar o personagem?

Não, não cheguei porque na minha relação pessoal eu não gosto de sentir dor e eu achei que não seria necessário para o personagem. Poderia me causar alguma coisa que eu levaria como memória emotiva e que não seria legal para o personagem porque ele curte muito o sadomasoquismo.

O João Silvério Trevisan acredita que o sadomasoquismo sempre acontece à beira do abismo. Você concorda?

Eu acho que sim, é o limite. O sadomasoquista procura esse limite da morte e quanto mais perto da morte ele estiver mais prazer ele sente.

Quando foi que a arte entrou em sua vida?

Aos 13 anos de idade eu fazia datilografia em Bauru e minha professora era uma senhora de 86 anos que tinha essa escola de datilografia e uma vasta biblioteca de teatro. Era uma estudiosa de teatro, chamava-se Celina Alves. Ela me dava os livros de teatro para treinar datilografia e aquilo me fascinou, aquelas histórias. O primeiro texto que eu datilografei foi uma peça de Anton Tchecov e aquilo me levou para um universo louco. Depois ela quis montar um espetáculo comigo. Um produtor de Campinas foi assistir o espetáculo e me convidou para fazer parte do elenco de uma peça mambembe. Comecei a fazer teatro assim. Já fiquei dentro de trem carregando cenário, dormi em escola, em estação de trem. Já passei alguns perrengues no início da carreira viajando com teatro.

E sobre posar nu? Rolaria agora?

Não, acho que não. É diferente, é outra coisa, ali é o personagem, não sou eu. Não sei se eu teria essa coragem.

quarta-feira, 11 de abril de 2007

Festival Palco Giratório



Festival Palco Giratório


Recife será PALCO da maior rede de festivais de artes cênicas do país. De 12 de abril a 5 de maio, 25 companhias apresentam 29 espetáculos teatrais, como parte do Festival Palco Giratório Brasil – Recife. As montagens vindas de várias partes do país passaram pelo crivo de uma curadoria nacional e circulam por 107 cidades de todos os estados brasileiros, em circuitos e etapas pré-determinadas, democratizando e descentralizando o acesso à cultura, graças ao projeto Palco Giratório.
O Festival é um dos braços do Palco Giratório e congrega todos os espetáculos, numa programação concentrada, impactante, que representa um mosaico da diversidade cênica nacional com suas especificidades técnicas e estéticas, além das suas características regionais. Na edição Recife, integram a programação espetáculos de companhias locais e do interior do Estado de Pernambuco, além de grupos contemplados pelo projeto Caravana da Funarte.
Durante 24 dias consecutivos, um dos mais ricos repertórios teatrais entra em cena na cidade do Recife, trazendo um festival de cores, contrastes, sotaques, rituais, técnicas, comportamentos, linguagens, trocas e cidadania cultural.

Programação Completa

12/04 / 20hFernando e Isaura (PE)Teatro Apolo
13/04 / 20hRealejo (CE)Teatro Apolo
14/04 / 17hCegonha Boa de Bico (PE)Teatro Armazém 14
14/04 / 17hO Patinho Feio (SC)Teatro Capiba
15/04 / 20hCapitu (PR)Teatro Hermilo Borba Filho
15/04 / 17hO Patinho Feio (SC)Teatro Capiba
16/04 / 20hA Chegada da Prostituta no Céu (PE)Sesc Piedade
17/04 / 20hOlhos de Touro (DF)Teatro Hermilo Borba Filho
18/04 / 20hAs Criadas (PE)Teatro Capiba
19/04 / 20hGota D’Água (SP)Teatro Hermilo Borba Filho
20/04 / 20hO Círculo de Giz Caucasiano (SP)Teatro Apolo
20/04 / 20hO Incrível Ladrão de Calcinhas (SC)Teatro Hermilo Borba Filho
21/04 / 17hViagem ao Centro da Terra (RJ)Teatro Hermilo Borba Filho
21/04 / 17hO Velho Lobo do Mar (SC)Sesc Piedade
21/04 / 20hO Círculo de Giz Caucasiano (SP)Teatro Apolo
22/04 / 17hPoemas Esparadrápicos (PE)Teatro Capiba
22/04 / 11hO Velho Lobo do Mar (SC)Sesc Casa Amarela
22/04 / 17hHistória de Teatros e Circo (CE)Sesc Piedade
24/04 / 20hSaci (RS)Teatro Hermilo Borba Filho
25/04 / 20hFervo (PE)Teatro de Santa Isabel
26/04 / 20hCartas para um Mozartiano (PE)Espaço Passárgada
26/04 / 20hÓpera (PE)Teatro de Santa Isabel
27/04 / 20hBrincantes, Bailantes, Dançantes (PE)Teatro Hermilo Borba Filho
27/04 / 20h Aperitivos (PR)Teatro de Santa Isabel
28/04 / 20hHoje é Dia de Rock (PE)Teatro Hermilo Borba Filho
28/04 / 19h e 21hComo? / Clandestino (SP)Teatro de Santa Isabel
29/04 / 19h e 21hComo? / Outras Formas (SP)Teatro de Santa Isabel
30/04 / 20hAntonio Maria (RJ)Teatro Hermilo Borba Filho
01/05 / 20hAquelas Duas (RS)Teatro Capiba
03/05 / 20hPsicoses (PE)Teatro Apolo
04/05 / 21hMédelei (SP)Teatro Apolo
05/05 / 21hMédelei (SP)Teatro Apolo

Lançamentos

18/0420h - A Roda do Mundo Gira: um olhar sobre o Cavalo Marinho Estrela de Ouro de Condado, de Érico José Souza de OliveiraLocal: Sesc Piedade
27/0419h - Revista Vintén (Cia do Latão)Local: Sesc Casa Amarela

Oficinas (Local, Hora e Preço)

22 a 26/049h às 13h - Cia do Latão (SP)Local: Teatro Capiba Preço: R$ 50 e R$ 30
27/0420h - Palestra Sérgio Carvalho (SP)Local: Teatro CapibaPreço: Entrada Franca
28/0419h - Demonstração de trabalho Cia do Latão Local: Teatro Hermilo Borba Filho Preço:
Entrada Franca 20h - Palestra Sérgio Carvalho (SP)Local: Teatro CapibaPreço: Entrada Franca
30/0418h - Dança Contemporânea – Ângelo Madureira e Ana Catarina Vieira (SP)Local: Sesc Piedade Preço: Entrada Franca05/0516h - Ação Médelei (SP)Local: Teatro ApoloPreço: Entrada Franca

Ingressos

R$ 5,00 - Comerciários, dependentes, estudantes e idososR$ 10,00 - Público em geral Vendas nos teatros em pauta.

Serviço

Teatro ApoloRua do Apolo, 121, Bairro do Recife – Recife Fone: (81) 3232-2028
Teatro Hermilo Borba FilhoRua do Apolo, 121, Bairro do Recife – Recife Fone: (81) 3232-2030
Teatro Capiba/Sesc Casa AmarelaR. Prof José dos Anjos, 1109, Mangabeira – RecifeFone: (81) 3267-4400
Sesc PiedadeAv Beira Mar, s/nº, Praia de Venda Grande – Jaboatão dos GuararapesFone: (81) 3361-0097
Teatro de Santa IsabelPraça da República, s/n, Santo Antônio – RecifeFone: (81) 3232-2939
Espaço PasárgadaRua da União, 263, Boa Vista – Recife Fone: (81) 3134-3414
Teatro ArmazémAvenida Alfredo Lisboa, Armazém 14, Recife Antigo – Recife Fone: (81) 3424.5613
Não perca!!!

terça-feira, 10 de abril de 2007

*****AS CRIADAS*****

Cênicas Companhia de Repertório celebra universo abissal de Jean Genet













UNIVERSO ABISSAL DE GENET
Elton Bruno Soares de Siqueira
*



Mise en abyme é uma expressão francesa que não tem equivalente exato em nossa língua. “Estrutura em abismo” vem a ser o termo que alguns pensadores brasileiros encontraram para caracterizar a arte dentro da arte, a narrativa dentro da narrativa. A metáfora mais próxima desse tipo de estrutura é o jogo de espelhos. Rompendo com o conceito de representação da realidade, o artista se vale da arte para refletir a própria arte, colocando-nos na condição de partícipes do fazer artístico. Sem a segurança dos referentes da representação, sentimo-nos como que inseridos num abismo. Jean Genet, dramaturgo que radicalizou, em seu teatro, o jogo de espelhos, construiu sua dramaturgia na perspectiva da alteridade do sistema burguês dominante. De fato, seus textos se empenham em desvelar a sociedade burguesa, concebida como um grande teatro onde as pessoas fingem ser o que não são. Atenta à particularidade dessa dramaturgia, a Cênicas Companhia de Repertório, em homenagem aos vinte anos da morte de Genet, oferece ao público recifense o espetáculo As Criadas, com direção geral assinada por Marcondes Lima e Kleber Lourenço.
No palco, Antônio Rodrigues e Jorge de Paula desempenham, respectivamente, os papéis de Solange e Clara, duas irmãs, criadas de uma família burguesa, que arquitetaram a prisão do Senhor e, na iminência de serem desmascaradas, planejam assassinar a Madame, personagem interpretada por Eduardo Japiassú. A peça pode ser dividida em três momentos. No primeiro, as criadas se divertem em interpretar a patroa, no próprio aposento de sua senhoria. O fio narrativo estabelece o conflito quando, no auge do jogo, elas atendem a uma ligação do Senhor, que havia recebido liberdade condicional. Temendo que seus planos viessem à baila, elas decidem envenenar a Madame, pondo dez gotas de Gardenal em seu chá de tília. No segundo momento, a Madame chega ao seu próprio quarto, lamuriando a prisão do Senhor. Vendo o telefone fora do gancho, pergunta às criadas quem havia telefonado. Elas terminam revelando que o Senhor tinha ligado, informando de sua liberdade. A Madame, eufórica, recusa o chá de tília que lhe trouxe Clara e parte ao encontro do amante. No terceiro momento, enfim, sozinhas, fracassadas e temerosas, Solange e Clara voltam a jogar com os papéis de Madame e de criada, até que Solange serve à irmã, que desempenha a Madame, uma xícara do chá envenenado. Clara morre, Solange fica imóvel diante do público e as luzes se apagam, encerrando o espetáculo.
O “3” é um símbolo importante na peça de Genet. São três personagens realizando a ação dramática, dividida, como vimos, em três momentos, podendo ser, cada momento, por sua vez, dividido em outros três, e assim sucessivamente. Ademais, o próprio jogo abissal que Genet nos oferece é realizado por personagens que fecham, elas mesmas, o círculo ternário: Clara representa Madame, que se dirige a Solange, ela própria representando Clara. Inspirada pela ambivalência do texto, a encenação de Marcondes Lima e Kleber Lourenço parece apostar no número 3. O cenário é todo ele preto e branco, senão pelo vestido vermelho da Madame, que se encontra pendurado num porta-vestido. O desenho do palco segue os vértices de um triângulo: ao fundo, o porta-vestido, no formato de cruz (símbolo da trindade; da vida, morte e ressurreição), em frente ao qual está o leito da Madame; no lado esquerdo, uma caixa com tampa de vidro, donde se vêem guardados alguns tecidos brancos; no direito, a penteadeira de Madame, com um espelho oval, forte referência ao caráter abissal que propõe o drama genetiano. Duas escadas, cada uma numa extremidade do palco, levam ao primeiro andar, no centro do qual as criadas realizam algumas cenas e movimentos. Personagens femininas são desempenhadas por atores homens. Não bastasse o distanciamento que essa escolha propõe à cena, o figurino das criadas, inspirado em indumentárias japonesas, ainda contém, na parte de trás, uma abertura, de forma que a bunda e as pernas masculinas e peludas dos atores não deixassem dúvida de que se tratava de homens fazendo papéis femininos. Além de serem atores interpretando mulheres, os encenadores, em determinadas marcações ou gestus das personagens, imprimem um estilo camp, fazendo referência à cultura gay, também ela fortemente presente na obra de Genet. Em muitos momentos os atores não se olham, fixando os olhos em direções diferentes uns dos outros, a não ser em tempos precisos, em que seus olhares se encontram. Além disso, fazendo eco à estética e cultura contemporâneas, os encenadores recorrem a inúmeras referências, todas elas, no espetáculo, concentradas no eixo Brasil-França-Extremo Oriente. Como se vê, os exemplos são abundantes.
Vale destacar o trabalho rítmico da cena, possível pela marcação precisa e geométrica, pela iluminação e pela sonoplastia. Diria, contudo, que a mise en scène apostou alto demais no que os atores poderiam oferecer em tempo tão curto para a montagem do espetáculo. A referência ao teatro japonês, ao Butô, aos Mangas e Animes exigia deles um movimento corporal preciso, o que não foi simples em princípio. Dispus-me a acompanhar o espetáculo em três momentos significativos: um, no início da temporada; outro, no meio-tempo; enfim, um terceiro, no último dia do que espero ser apenas a primeira temporada. Dessa forma, fui percebendo um paulatino amadurecimento dos atores em cena, os quais, vale ressaltar, assumiram honesta e bravamente a proposta dos encenadores, a despeito do contexto particular em que a peça foi erigida. No início da temporada, apesar de não ter havido nenhum grande contraste no trabalho dos intérpretes, o que seria desfavorável à cena, percebia-se que Jorge de Paula, com excelente trabalho corporal e expressões precisas e sutis, conferia plasticidade e emoção mais condizentes com a proposta da encenação. Faltava a Antônio Rodrigues essa mesma precisão dos gestos, a fim de poder chegar à simetria que a cena pretendia expressar.
Quanto a Eduardo Japiassú (que faz a entrada mais glamourosa da Madame, de todas as encenações que já vi desse texto), percebia-se que o ator não mantinha um trabalho afinado com a interpretação que Jorge de Paula oferecia da personagem Clara. Explico melhor o comentário. Ao longo da peça, Clara está interpretando, as mais das vezes, o papel de Madame. Certamente, essa interpretação tange o caricatural, o que mostra terem sido os encenadores fiéis à proposta do texto de Genet, quando se refere a Clara: son geste - le bras tendu - et le ton seront d’un tragique exaspéré. Acreditamos que Eduardo Japiassú deveria ter mantido um diálogo mais intenso com Jorge de Paula, a fim de que suas personagens pudessem oferecer certa similaridade, ou melhor, que a personagem da Madame contivesse índices já previstos pela imitação caricatural de Clara, haja vista o jogo de espelhos presente na peça. Não houve isso naquele momento. Mas da última vez que assisti ao espetáculo, constatei que tanto o trabalho de Antônio Rodrigues quanto o de Eduardo Japiassú se transformaram para melhor. O primeiro adicionou expressões sutis, sem redundar em mera histrionice; além disso, alcançou um desenho corporal mais afinado com o de seu colega de cena, Jorge de Paula. Eduardo Japiassú, por sua vez, buscou no trabalho vocal a afetação necessária, naquele contexto, à Madame, dando maior realce à sua personagem.
A iluminação e a sonoplastia são, também, os pontos altos do espetáculo. O trabalho de Marcelo Sena demonstrou pesquisa da música japonesa para chegar ao efeito pretendido pelos encenadores. Mais particularmente, o maior mérito da sonoplastia foi o de estar a serviço do ritmo da trama, acentuando momentos significativos da ação dramática. Quanto à iluminação, optou-se por um clima sombrio, o que era realçado pela cor predominante do cenário, preto e branco. Também a iluminação realçava a referência aos Mangas e Animes, valendo-se, para tanto, de técnicas cinematográficas, como o close-up. Só para citar um exemplo, a cada estranha pista que a Madame ia encontrando em seu aposento, a luz focalizava-se no rosto de cada criada, gerando um efeito ótico correspondente, no cinema, ao efeito gerado pela edição e pela montagem. A luz, assim, contribui para sublinhar o caráter pop que o texto de Genet ganhou nessa montagem da Cênicas Companhia de Repertório.
A propósito do texto, a tradução portuguesa oferecida neste espetáculo constitui, a meu ver, o único senão da montagem. A justificativa dada por Romildo Moreira, um dos responsáveis pelo Concurso especial de Montagem Jean Genet, concedido pelo FUNDARPE, foi que o texto era o único de língua portuguesa catalogado e autorizado pelo Instituto Jean Genet, responsável pelos direitos autorais da obra do dramaturgo. De fato, não temos nenhuma tradução brasileira oficial. No entanto, soa muito estranho o uso de determinados elementos morfossintáticos, porque distantes da nossa realidade lingüística. Assim, quando Clara, representando a Madame, diz a Solange: vous êtes hideuse, ma belle, a tradução que ouvimos no palco é: tu és repelente, minha linda. Por mais que no dicionário o sentido de repelente seja o de repugnante, trata-se de um uso que faz muito mais sentido em Portugal do que em nosso contexto. Outro realce teria essa fala se substituíssemos, por exemplo, tal palavra por horrenda, ou mesmo repugnante. Como és horrenda, minha linda expressa muito mais a força da antítese contida no original francês, pelo jogo das palavras hideuse/belle. Isso para não mencionar o uso do infinitivo no lugar do gerúndio, traço característico da sintaxe portuguesa de Portugal. Justiça seja feita: o grupo se empenhou, no que foi possível, em adaptar para nosso uso lingüístico muitas das expressões portuguesas que certamente não seriam bem compreendidas pelo público local. Mas o texto ainda continua pesadamente lusitano.
Sendo essa última questão algo que extrapola o trabalho do grupo, as Criadas de Marcondes Lima, Kleber Lourenço e da Cênicas Companhia de Repertório merecem nossos aplausos, por apresentar ao público recifense, numa linguagem cênica original, uma belíssima interpretação do universo abissal de Jean Genet. Que no próximo ano o espetáculo retorne aos palcos numa nova temporada, oferecendo, assim, prazer garantido.




* Professor de Literatura Dramática. Doutorando em Teoria da Literatura, com ênfase em Literatura Dramática.



_______________________________________________________________


AGENDE-SE


FESTIVAL PALCO GIRATÓRIO

"AS CRIADAS" de Jean Genet
Por Macondes Lime e Kleber Lourenço
Com Antônio Rodrigues. Eduardo Japiassu e Jorge de Paula

TEATRO CAPIBA - SESC CASA AMARELA

DIA 18 de abril às 20:00h

***ÚNICA APRESENTAÇÃO***

NÃO PERCAM!!!

Bem Vindos!!!


Caros amigos



Sejam bem vindos ao mais novo Blog de teatro em Pernambuco.

É mais um espaço apara as pessoas que curtem e participam da cena teatral pernambucana.

Não esquEçam da nossa comunidade:


TEATRO EM CENA PE



Saudações dionísicas.


Deixem aqui as suas opiniões.


Toni®ecife